sábado, 19 de abril de 2014

Quando a intolerância é a palavra de ordem...

Já escrevi várias vezes, seja aqui neste blog seja em minha página no Facebook, sobre o quanto temos nos deixado levar pela cultura da intolerância. Mas, ao que parece, será difícil deixar de surpreender-me ou, ao menos, incomodar-me com a capacidade (ou a incapacidade) das pessoas - mesmo aquelas que se julgam e se autoproclamam abertas, democráticas, libertárias, progressistas -, promoverem, impensadamente, o preconceito, a segregação e o ódio.




Pois não é que anteontem deparei-me com essa foto postada no Facebook, acompanhada e seguida de comentários raivosos, a grande maioria deles absolutamente disparatados e sem nada de concreto a fundamentá-los?!



Alguns dos "comentários" chegavam a falar em "maus-tratos" às crianças e a pedir a intervenção dos Conselhos Tutelares. Desnecessário comentar...

Outros, é preciso dizer, a bem da verdade, restringiam-se a condenar uma certa "precocidade" e "precipitação" em promover uma atividade como essa para crianças em tão tenra idade. Com esses, em boa medida, concordo. Mas, apenas em certa medida. Explico por quê: porque mesmo dentre esses "comentaristas", (e o que afirmo baseia-se nas ideias que já os vi divulgar várias vezes) não se incomodariam nem um pouquinho sequer se, por exemplo, na foto, víssemos dois meninos ou duas meninas beijando-se na boca, se é que me entendem... 

A primeira coisa a "impressionar-me" foi a "genialidade" desses tais "comentaristas", dada a sua "capacidade" de "adivinharem" em que condições aconteceu a encenação retratada. Esses "comentaristas" pareciam ter pleno conhecimento do que foi dito a essas crianças antes, durante e depois do teatrinho. Seus "comentários" davam margem à conclusão de que, seja lá como tenham conseguido isso, eles "sabiam", com a mais plena e clara riqueza de detalhes, que os adultos que acompanharam essas crianças "são" pessoas mal intencionadas, fundamentalistas, reacionárias e que a nada mais se dedicaram com essa atividade do que a lhes dar maus ensinamentos. Mais uma vez, sem comentários...

Não se dão conta essas pessoas - porque, obviamente, não sabem, já que não se dispõem nem um pouco a procurar saber - de que, embora tudo o que dizem possa realmente ter ocorrido (também é preciso dizer, porque é uma possibilidade), igualmente pode ter-se dado exatamente o seu oposto. E que, para os que conhecem os trabalhos, a motivação e a capacidade da grande maioria dos catequistas, essa última possibilidade é bem maior. Muito provavelmente, "por trás" de tal encenação, houve uma catequese do amor, da entrega, da fidelidade a princípios e valores de justiça, solidariedade, não violência.

Mas, como tenho dito em meus escritos (artigos e posts), infelizmente, muito, muito infelizmente, boa parte das pessoas está cada vez mais se fechando em suas crenças (muitas delas sem qualquer fundamentação em fatos ou dados da realidade) e [des]valores e criando mais e mais situações e motivos de divisão que de união, de conflito que de harmonia, de ódio que de amor.

A persistir esse cenário e essa atitude, não consigo visualizar um horizonte que possa chamar de desejável.

Resta-me, nessa hora, recorrer à Oração de São Francisco, um magnífico antídoto a esse veneno!

E também ao pensamento da filósofa Hannah Arendt, que tanto refletiu e escreveu sobre essa incapacidade ou recusa de alguns seres humanos à atividade do pensar e sobre suas consequências - a violência, a intolerância, o mal banalizado.

E resistir, não desistir e seguir, buscando, com todas as forças, nunca perder a capacidade de pensar e de - importantíssimo - ouvir o outro antes de chegar a qualquer julgamento e ação.