segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ressurreição: mágica ou vivência?

Ao falarmos de Ressurreição podemos enveredar por caminhos distintos não somente em sua forma e apresentação, mas, fundamentalmente, em seu significado e importância.

O primeiro caminho – o mais fácil de ser trilhado – é o que enfoca o aspecto milagroso, espetacular da ressurreição. Este enfoque, que privilegia as aparições e encontros do ressuscitado com seus discípulos, o faz para ressaltar o que poderíamos chamar de seus poderes mágicos.

Com efeito, há quem diga até que Jesus podia entrar nas casas e delas sair, mesmo com suas portas e janelas fechadas, pois seu corpo glorioso lhe permitia atravessar as paredes. Ora, embora os Evangelhos mencionem os encontros de Jesus com seus discípulos, e os relatem como ocorridos em recintos fechados, em nenhum deles se afirma que Jesus tenha atravessado paredes.

Outro enfoque, o que prefiro, pode ser extraído de uma interpretação do texto de Lucas, o único que narra detalhadamente o “encontro” de Emaús (24,13-35). Ao final desta passagem (que pode ser vista como a inspiração da liturgia da Igreja Católica – primeiro a escuta e entendimento da Palavra e depois a partilha do Pão), são os discípulos que convidam Jesus a ficar com eles e, só então o reconhecem ao repartir o pão. Um deles, então, diz ao outro, “não ardia o nosso coração enquanto nos falava das Escrituras?” Na sequência (v.45), Lucas diz que “Ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”.

Em João 21, Jesus aparece aos discípulos à beira do Lago Tiberíades. O encontro se dá pela manhã, quando voltam de uma pescaria fracassada. Dois pontos devem ser destacados: 1º) estando juntos (os discípulos), Pedro resolveu ir pescar e os outros lhe disseram “nós vamos contigo” e 2º) quando Jesus lhes aparece e pede de comer, como nada tinham pescado, ele os manda voltar e lançar a rede à direita do barco, ao que eles obedecem, sendo então bem-sucedidos; aqui é preciso lembrar que Jesus havia prometido a Pedro que o faria “pescador de homens”.

É isto! Jesus só se faz verdadeiramente ressuscitado ante os discípulos quando estes a) se reúnem, b) caminham juntos, c) fazem-se “pescadores” e d) se abrem para crer e aceitar esta verdade.

Também nós precisamos abrir nossa inteligência ao que a Bíblia quer nos dizer. Se queremos evangelizar para uma fé do compromisso, o enfoque que devemos privilegiar é aquele que tem como ponto-de-partida 1) o convite (aceitação) que devemos fazer para que Jesus permaneça conosco e 2) a partilha do alimento com todos os que dele necessitam (fraternidade). A Ressurreição de Cristo é o fato de estar vivo entre nós pela vivência de seus ensinamentos, de sua Palavra. Cabe a nós, em nosso dia-a-dia, através da prática da justiça e do respeito pela dignidade da vida humana, mantê-lo vivo. Ou matá-lo, através da opressão e do egoísmo.